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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Cem dias de Mudança

jfd, 22.07.11

 

 

Para comemorar os Cem dias de Mudança, partilho com vocês algo que o meu caro psicótico fundador e EX-ab Paulo Colaço fez o favor de partilhar com a psicolista recentemente.

 

Eu não teria escrito melhor, por isso ficam aqui as palavras do autor. Dedico aos aziados, descrentes, chateados e simplesmente velhos do Restelo:

 

O ministro das Finanças fala pausadamente, num estilo minucioso e com uma polidez fora de moda. Pois está péssimo: há quem lhe encontre alguma sobranceria e ache que o governante, de tão explicadinho, está a ser paternalista com os jornalistas e os deputados e a insultar a inteligência dos índigenas.

O ministro da Economia prefere que o tratem pelo nome próprio. Pois é um desplante: há quem ache que um governante que prescinde do título académico (mesmo quando, como já sucedeu, não o possua) não se dá ao respeito e deve ser achincalhado na praça pública.

A ministra da Agricultura apelou à moderação na utilização do ar condicionado e aconselhou os funcionários do ministério a abdicarem da gravata. Pois é incrível: há quem ache que a ministra aterrou esta semana de Marte onde a poupança de energia é um problema real, ao contrário do que sucede neste país iluminado pela Providência Divina.

Ser pontual, valorizar a pedagogia, subordinar o título académico ao conhecimento, adoptar práticas que representam uma opção pela poupança e pela eficiência energética, não são, obviamente, um programa de governo. É preciso muito mais e exige-se muito mais a um Executivo.

Mas todos estes pequenos gestos de mudança constituem boas práticas pouco reconhecidas em Portugal. Não deixa, porém, de ser relevante o facto de os primeiros a criticarem, de forma corrosiva e ‘blasé', estes primeiros sinais, serem personalidades que têm responsabilidades na formação da opinião pública.

É um defeito português, e uma desvantagem competitiva, esta tendência para condenar ao ridículo qualquer idiossincrasia de um governante ou pequeno gesto de mudança de um governo.

Refém das aparências, deslumbrada com o aparato da forma que o anterior primeiro-ministro usou até à exaustão, boa parte de nós tende a aceitar a prepotência, a opacidade e até a mentira. Mas, conservadores empedernidos, não perdoamos que as coisas - mesmo as pequenas coisas - deixem de ser o que sempre foram.

Chegar atrasado, falar em velocidade de cruzeiro, exigir ser tratado por doutor ou desvalorizar os pequenos actos quotidianos que nos tornam melhores cidadãos, parecem, ironicamente, requisitos indispensáveis para desempenhar um cargo público. Mas, não o são num país civilizado e desenvolvido. Eis um enorme defeito português: não perdoamos, e até achincalhamos, as pequenas mudanças que nos irritam. Mesmo quando não sabemos porquê.

 

 


Miguel Coutinho

 


 

 

economico.pt

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